quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Sua carta


Nunca vou entregar essa carta, e você provavelmente nunca vai saber dela. Ou talvez saiba depois de muitos anos que um dia ela existiu.

Talvez você saiba agora.

Eu fui embora e lembro que um tempo antes, passei a sentir falta de muitas coisas diferentes, amigos, família, até certas comidas...E aí percebi que sentia falta de você a mais tempo.

Certas coisas ficam, e marcam a gente como fogo quando encosta na pele. Às vezes acho que você é isso, e que talvez por isso sempre lembre de você e não consigo e não quero me afastar. 

Sei que me magoei, mas eramos crianças e ainda assim sempre soube que um dia ficaríamos juntos de novo. 

O tempo passou, a gente cresceu e se tem uma coisa que gosto de lembrar é do tempo que ficamos juntos.

Talvez um dia você case e até tenha filhos, mas não sei...Sempre que penso no seu sorriso sinto que vou vê-lo de novo. Sabe quando fica aquele eterno "E se" na cabeça? É isso que você provoca em mim.

Fui pra um lugar incrível. Eu precisava disso, essa cidade fez nascer uma nuvem negra em mim, era de um caos ensurdecedor. Um dia então, eu me vi sozinha, ouvia com clareza as gotas num dia de simples garoa, senti o cheiro da grama molhada, acordava com o som do mar batendo na areia como um convite para ser visto. Eu lembro bem, pois foi quando eu aceitei o convite que minha mente e alma silenciaram.

Queria que você estivesse lá pra sentir o que eu senti.

Teve um tempo que você me dizia que queria ir pra lá pra estudar, e eu fiquei animada com a ideia, mas do mesmo jeito que veio um sorriso também me veio a realidade. Uma amiga me perguntou:

 "Mas se ele vier, você não vai ficar com ele?"

"Não" foi a minha resposta, com um rosto sério. Ela me perguntou por que e eu respondi que "seria muito egoísmo da minha parte, você estava conhecendo coisas novas, como eu já conheci, não poderia deixa-lo perder isso". E não deixei, tanto que você viveu e teve novas experiências, mas aí onde sempre esteve.

Eu sempre gostei tanto de você que entendia que tinha que te deixar ir. Só que esse "e se" continua martelando em mim, por isso, depois de seis anos que te escrevi uma carta e a rasguei resolvi reescrever. Como dizem, nunca é tarde demais pra gente dizer o que sente.

Sei que seu coração foi muito magoado. Mas sei também que faz um tempo que você fechou a porta pra isso. Olha, não feche a porta. Deixe com que outras pessoas tenham o prazer de conhecer o cara que conheci, por favor.

Busque um motivo pra sorrir como você sorria quando tínhamos 15 anos. 

Vá viajar, fique sozinho, encare você mesmo e veja que não existe nada para se temer.

A última pagina dessa carta serve pra isso, pra que você comece a escrever uma de novas aventuras.

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